terça-feira, 18 de agosto de 2009


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
Amar e esquecer,amar e malamar,
amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amorososozinho,
em rotação universal, senão rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia,o que ele sepulta,
e o que, na brisa marinha,é sal,
ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,um vaso sem flor,
um chão de ferro,e o peito inerte,
e a rua vista em sonho e uma ave de rapina.
Este o nosso destino:
amor sem conta,distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor
a procura medrosa,paciente,
de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

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