terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

"Menti? Não, compreendi.
Que a mentira, salvo a que é infantil e espontânea,
nasce da vontade de estar a sonhar,
é tão-somente a noção da existência real dos outros
e da necessidade de conformar a essa existência a nossa,
que se não pode conformar a ela.
A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma,
pois, assim como nos servimos de palavras,
que são sons articulados de uma maneira absurda,
para em linguagem real traduzir
os mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento,
que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir,
assim nos servimos da mentira e da ficção
para nos entendermos uns aos outros,
o que, com a verdade, própria e intransmissível,
se nunca poderia fazer."

(Fernando Pessoa)

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