sábado, 18 de setembro de 2010


O amor nunca morre de morte natural.
Morre porque o matamos ou o deixamos morrer.
Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço.
Morre esfaqueado pelas costas.
Morre eletrocutado pela sinceridade.
Morre atropelado pela grosseria.
Morre sufocado pela desavença.
Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento. Lavadas.
Com os ossos e as lembranças deslocados.
Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno.
Uma indiferença. Uma conversa surda.
Morre porque queremos que morra.
Decidimos que ele está morto.
Facilitamos seu estremecimento.
O amor não poderia morrer, ele não tem fim.
Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade.
 Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.
O fim do amor não será suicídio.
O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas.
O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende,
fala as coisas mais extraordinárias sem recuar.
O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto.
O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido,
fazer faxina em sua casa.
Colocar fora o que precisava,
reintegrar ao armário o que temia rever.
O amor é sempre assassinado.
Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa,
devemos saber o que fizemos antes com ela.

[Fabrício Carpinejar]

Nenhum comentário:

Postar um comentário