domingo, 1 de maio de 2011

Mas o que impressiona mesmo no amor-perfeito é o nome.
Que responsabilidade, meu filho!
Há por aí uma planta chamada de amor-de-um-dia,
que não carece muito esforço
para ser e acontecer, como doidivanas.
Outra atende por amor-das-onze-horas e
presume-se como sua vida é folgada.
Há também amor-de-vaqueiro,
amor-de-hortelão, amor-de-moça, amor-de-negro...
muitos amores vegetais que desempenham função limitada.
Mas este aqui não tem área específica,
não se dirige a grupo, ocasião, profissão.
É absoluto, resume um ideal
que vai além do poder das flores e dos seres humanos.
Que sentirá o amor-perfeito, sabendo-se assim nomeado?
Que tristeza lhe transfixará o veludo das pétalas ,
ao sentir que os homens que tal apelação lhe dera
não são absolutamente perfeitos em seus amores?
 Que aquele substantivo, casado a este adjetivo,
sugere mais aspiração infrutífera da alma
do que modelo identificável no cotidiano?
A tais perguntas o sóbrio amor-perfeito não responde.
O outono tampouco.
Talvez seja melhor
não haver resposta.
(Drummond)

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